O objeto é pequeno e muito semelhante a uma caixa de plástico. Discretas no meio da mata, as câmeras-trap, ou armadilhas fotográficas, estão auxiliando pesquisadores no sul catarinense a conhecerem e a preservarem a fauna silvestre nos últimos anos. Os equipamentos são instalados nas árvores e dão aos estudiosos uma visão privilegiada para a observação dos mamíferos.
Graças a um projeto desenvolvido desde de 2018 por pesquisadores da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), em parceria com o Instituto Alouatta, foi possível registrar a presença de mais de 32 espécies de mamíferos no entorno da Reserva Biológica Estadual do Aguaí, três dessas estão enfrentando risco de extinção no estado (jaguatirica, puma e paca).
Situada no bioma Mata Atlântica, o relevo acidentado e a grande variedade de ambientes proporcionam a presença de fauna diversificada.
O coordenador de projetos do Instituto Alouatta, Paulo Cadallora, ficou surpreso com o que conseguiu registrar no entorno da reserva.
“Foram instaladas 20 câmeras no início de 2018, em toda a área, em todos os 15 hectares. Essas câmeras passaram a trazer as informações que pra nós muitas delas passaram a ser surpresa. Alguns animais eu não imaginava que tinha como avistar”, lembra.
O projeto buscou entender quais são as espécies de mamíferos que habitam na encosta da Serra Geral, consideradas uma das mais bem preservadas do estado de Santa Catarina.
Foi possível conhecer também por meio da pesquisa o padrão de atividade de felinos, além de estudar os fungos presentes no corpo de morcegos.
As câmeras são acionadas quando identificam movimentos em até 15 metros de distância e possuem visão infravermelha que permite registros também a noite. As imagens e os vídeos produzidos por esse tipo de equipamento estão auxiliando no estudo de animais em seu habitat.
O projeto da Unesc já registrou a passagem de quatis, cachorro-do-mato, jaguatirica, gato-maracajá, gambá, capivara, bugio-ruivo, morcegos, dentre outros.
Depois que as câmeras gravam as imagens em cartões de memória, elas são levadas para o Laboratório de Zoologia e Ecologia de Vertebrados da Unesc (Labzev), onde são analisadas.
O coordenador do projeto “Diversidade de Mamíferos do Entorno da Reserva Ecológica do Aguaí”, Fernando Carvalho, ajudou a organizar os dados em planilhas eletrônicas junto com outros pesquisadores, para depois serem tabulados e, dessa forma, analisar todo o material coletado.
“Recolhe o cartão de memória, traz para o laboratório e analisa foto a foto, vídeo a vídeo, e tira as informações dali. A data, o horário, qual espécie de mamífero que foi registrado, e isso alimenta o nosso banco de dados que é utilizado por alunos da graduação e da pós-graduação”, conta.
A instalação das câmeras no município de Treviso ajudou a localizar o puma ou leão-baio, um felino de grande porte, que é considerado o segundo maior do brasil, com peso médio entre 22 e 74 quilos. Ele pode andar por mais de 40 quilômetros em uma só noite.
Apesar de não ocorrer em ambientes urbanos, há diversos registros de puma dentro de cidades, inclusive na região sul de Santa Catarina, com ocorrência no município de Laguna.
Graças às armadilhas fotográficas a espécie que está enfrentando risco de extinção no Brasil já foi vista em Treviso mais de 60 vezes.
A pesquisa virou livro o “Os Mamíferos do Entorno da Reserva Biológica Estadual do Aguaí” e agora está ajudando estudantes da rede pública a conhecerem mais sobre os mamíferos que vivem no entorno da reserva biológica.
A obra foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Santa Catarina (Fapesc). A publicação de 44 páginas está na segunda edição, e ganhou linguagem simples e ilustrações que deixaram o livro mais atrativo para as crianças e os adolescentes.
Além de estarem no livro e no e-book, as informações sobre os mamíferos foram espalhadas em placas ao longo da reserva e ajudam os turistas e visitantes a conhecerem mais sobre estes animais. A impressão dos livros e a confecção das placas informativas foram financiadas pelo Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA).
A pesquisa segue em andamento, e o coordenador do projeto, junto com outros pesquisadores da Unesc, planejam a terceira edição do livro que deve ser voltada à linguagem acadêmica, para estudantes do nível superior e profissionais da área.
Dessa vez os desenhos darão lugar a imagem reais. “Acreditamos e está tudo sendo organizado para que até o final do ano a gente tenha esse material produzido. Ele demanda um tempo maior de escrita, de preparação, mas fizemos contato com vários pesquisadores de outras instituições que também podem compor esse material”, promete.
Fonte: G1