Conheça o biólogo de SC famoso no TikTok por resgatar mais de 3 mil animais

Danubia de Souza

Danubia de Souza

O biólogo Christian Raboch Lempek, 33, faz sucesso no TikTok dividindo sua rotina de resgate de animais silvestres em Jaraguá do Sul, Santa Catarina. Com vídeos com milhões de visualizações, ele usa a ferramenta para promover educação ambiental.

“Tem dias, quando está frio e chovendo, que não nos chamam para resgate. Mas no calor, podemos fazer até 12 em 24 horas”, disse. O profissional trabalha com resgate de animais silvestres há sete anos e já recuperou mais de três mil deles —todos que tinham condições foram devolvidos imediatamente à natureza. Outros, encaminhados para a reabilitação.

Para a reportagem, ele contou um pouco do seu dia a dia e como se sente recebendo reconhecimento por disseminar informações que podem proteger o meio ambiente.

“Moro em Jaraguá do Sul, Santa Catarina, e desde pequeno fui criado em meio aos bichos. Quando chegou o momento de entrar na universidade, decidi que queria trabalhar com animais. Então prestei vestibular para biologia.

O meu curso era muito focado em botânica, mas consegui um estágio para trabalhar com armadilhas fotográficas para animais. Também trabalhei na Fundação Jaraguaense de Meio Ambiente por dois anos. Quando me formei, fui efetivado para atuar com educação ambiental e resgate de animais silvestres.

A essa altura, não tinha experiência em lidar com esse tipo de bichos, mas a empresa comprou o equipamento e, junto com outro biólogo, dei a cara a tapa para tentar e aprender. No primeiro ano, em 2016, fizemos cerca de 117 resgates. Em 2023, passamos de 800. Se somarmos os sete anos nos quais me dedico a isso, já passamos de três mil resgates. Soltamos todos os animais em condições de volta na natureza.

Bichos na cidade
Como há uma grande área de mata atlântica em Jaraguá do Sul —cerca de 40% do território é de floresta— temos muitos animais por aqui. Por desinformação e medo, quando aparece, por exemplo, uma cobra dormideira na casa das pessoas, elas acabam matando. Por isso esse trabalho de conscientização é importante.

Quando comecei a postar os vídeos nas redes sociais, mais pessoas passaram a conhecer o trabalho de resgate e entrar em contato conosco quando encontram animais em lugares inadequados. Isso os protege.

Quando comecei a trabalhar com isso, eu mesmo tinha muito medo de cobra —e tive que aprender, na prática, como resgatá-las. Mas depois de anos, isso passou. Resgatamos tantos bichos por aqui que já temos até curso de capacitação para pessoas que querem trabalhar na área. Mas falamos principalmente com bombeiros”

E, claro, em meio a tantos bichos, sempre tem casos inusitados. No final de 2021 fomos chamados para resgatar uma cobra que estava no motor de um caminhão. O motorista não sabia dar nenhum detalhe do animal.

Quando abri o filtro de ar, caiu uma cobra de um metro e meio no meu colo. O caminhão tinha vindo do Nordeste com essa surpresinha na bagagem. Como a espécie não era comum na nossa região, a levamos para um zoológico para que pudesse ser cuidada.

Outro momento do meu trabalho chegou a virar piada na internet: um lagarto correndo atrás de mim em um dia de resgate —e eu correndo dele.

Tem alguns animais que são mais comuns no resgate, como o gambá e a cobra dormideira, outros mais raros, como o macaco bugio, a serpente caninana e a cobra cipó, que pode chegar a 2 metros de comprimento. A gente adora quando isso acontece: quanto maior a dificuldade de resgatá-los, maior a adrenalina.

O que não fazemos por aqui é o resgate de abelhas, porque não temos os equipamentos corretos. Existem apicultores que são nossos parceiros que são acionados nessas ocasiões. Morcegos também não são nossa responsabilidade e, sim, da equipe de zoonoses.

Na cidade, temos 10 pontos de soltura de animais onde podemos liberar os bichos resgatados. Se for, por exemplo, um gato-maracajá, que está ameaçado de extinção, tenho que procurar uma área mais conservada, para não deixá-lo perto de locais urbanos.

Quando o animal está machucado, levamos ao veterinário para cuidados e reabilitação. Após a melhora, ele volta para a natureza. Se é um filhote de mamífero ou algum bichinho que vai demorar mais para se reabilitar, levamos para um centro de triagem de animais silvestres para mais cuidados antes da soltura.

Febre de gambá
Faço muitos resgates de gambá. Esse é um animal silvestre que está protegido pela lei, mas como se acostumou com a presença humana, pode ser encontrado dentro dos forros das casas.

Poucas pessoas sabem, mas ele é um animal onívoro, que se alimenta de frutas, ratos, aranhas, carrapatos e até escorpiões e cobras peçonhentas. Ele tem uma proteína no corpo que o torna imune à picada venenosa de alguns animais. Por isso ele é muito importante para o meio ambiente.

Claro que dentro de casa ou no forro do telhado ele incomoda, mas solto no quintal, terrenos baldios e em cima de árvores não fazem mal algum. Quando ele está acuado pode, sim, morder e soltar aquele cheiro forte e ruim. É uma estratégia de defesa.

Espalhando educação
Falo do meu trabalho nas redes sociais desde 2017, quando comecei a fazer o resgate de animais. Dividia por algumas fotos no Instagram o que estava fazendo sempre em busca de disseminar esse conhecimento sobre educação ambiental.

Fui me adaptando às mudanças da internet e fiz uma conta no TikTok. O perfil foi crescendo e tomando a proporção que tem hoje. Em dois anos, fui de 20 mil seguidores para 840 mil. Todo dia recebo mensagem de pessoas me perguntando como trabalhar com resgates e já fui convidado para dar palestras em várias partes do país.

É um sentimento de prazer e gratidão bem grande. Nunca pensei que meus vídeos ganhariam essas proporções. Na rua, as pessoas me param para tirar foto. É bem legal. Trabalho com o que amo e tenho reconhecimento. Isso é muito incrível.”.

Fonte: UOL

 

 

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