Veterinário de Blumenau é suspeito de cometer maus-tratos e outros crimes

Danubia de Souza

Danubia de Souza

O veterinário Eduardo Hering Bell, conhecido como “Veterinário Popular” em Blumenau, foi alvo de uma série de denúncias na Polícia Civil, Ministério Público e no Conselho Regional de Medicina Veterinária de Santa Catarina. Ele é suspeito de atuar de forma irregular e de provocar a morte de alguns animais por erro nos procedimentos cirúrgicos.

Segundo as denúncias, o veterinário teria castrado cães e gatos na própria residência em que morava, ou em espaços alugados, sem condições sanitárias adequadas. Ele atraia clientes pelas redes sociais divulgando preços acessíveis, abaixo do valor de mercado.

A assistente comercial Jilvania Kamers foi uma das denunciantes. Ela conta que em abril deste ano procurou o veterinário. A cachorrinha dela, uma viralatinha chamada Dara, morreu um dia após a castração por complicações no procedimento cirúrgico.

“Quando fui buscá-la, ela estava toda molhada e vomitada, parecia estar com bastante dor. Levei ela em outro veterinário e foi constatado um líquido solto no abdômen. Ela estava com todos os órgãos em choque,  hipotermia e faleceu na tarde de domingo. Segundo o laudo, provavelmente foi alguma perfuração ou complicação por conta da cirurgia mal feita”.

Jilvania entrou em depressão após a morte da cachorrinha. Dara estava na família há 4 anos e tinha sido adotada com poucos meses de vida.

“Eu adotei para salvar a vida dela, para amar, cuidar. Ela era a coisa mais linda desse mundo, inteligente, atendia como filha. A única coisa que me restou agora foi o molde da patinha dela e um pedacinho do pelo do rabicó (como eu gostava de chamar), que o crematório me deu.”, conta emocionada.

Em outra denúncia, há um laudo de uma gatinha que teria sido castrada pelo Dr. Bell e entregue para a dona ainda com os pontos na barriga abertos. Ao ser socorrida em outra clínica, o veterinário percebeu que apenas a primeira camada de pele havia sido cortada.

“Eles constataram que ela nem tinha sido castrada. Ela ficou internada uma semana e estava com infecção generalizada”, explica a tutora, Maraysa Cardoso da Lapa.

 

Laudo apontou que a gatinha não havia sido castrada. Snow sobreviveu, mas ficou uma semana internada em outra clínica

Em denúncia para o CRMV, um veterinário de Blumenau relata que já teve de socorrer animais que foram atendidos pelo dr. Bell. Entre eles, uma cachorrinha chamada Belinha, que teve hemorragia após a castração. No laudo, constam evidências de erros no procedimento e de contaminação no ato cirúrgico.

“Vi o anúncio no Facebook de que tinha um preço mais acessível. Quando fui buscar a Belinha levei um susto. Ela estava toda urinada e cheia de sangue. Ele não me passou receita e nem medicação. Quando ela chegou em casa começou a passar mal”, Explica a tutora Regane Moura.

Laudo apontou contaminação no ato cirúrgico. Belinha sobreviveu após ser socorrida em outra clínica.

A reportagem apurou que o veterinário atuava em, pelo menos, quatro cidades do Vale. Ele anunciava atendimento em Blumenau, Timbó, Pomerode e Indaial. Em Blumenau há registros em três endereços, nos bairros Velha, Vila Nova e Itoupava Seca.

Na semana passada, o serralheiro de alumínio Itamar da Silva Ramos, também fez denúncia contra o veterinário. Ele tem uma cachorra da raça pitbull que teve hemorragia após a castração. Ele conta que o animal teve de ser operado em outra clínica, por conta do procedimento feito anteriormente.

“Desconfiamos que ele estava sob efeito de alguma substância química. Quando chegamos na clínica para retirar a cachorra, ele estava visivelmente alterado. Ele examinava minha cachorra sem luvas e ainda dizia que o sangramento era normal”, explica o tutor.

 

pitbull teve hemorragia após a castração. Foi socorrida em outra clínica veterinária

 

Em quase todas as denúncias, as vítimas relatam que o veterinário parecia estar embriagado durante o trabalho. Alguns denunciantes chegaram a filmar o veterinário. Outros,  usam áudios do aplicativo Whats App como provas.

A revisora Juliana Pereira deixou dois animais para tratamento na clínica. Uma cachorrinha da raça Chow-Chow, que seria castrada, e um gato com infecção urinária. O felino não resistiu.

“Eu entrei na clínica e tinha um cheiro fortíssimo de álcool. E ele me dizendo que não tinha conseguido colocar a sonda no gato, falando todo arrastado, nitidamente embriagado…Eu levei o gato para casa no sábado e na manhã de segunda-feira ele estava sem vida, deitado dentro de um baú onde guardo os brinquedos do meu filho”, explica.

 

Cachorra e gato após atendimento. Felino não resistiu.

 

O coronel Jefferson Schmidt, comandante da 7ª Região de Polícia Militar, está elaborando um Relatório Técnico Operacional (RTO) que será encaminhado ao Ministério Público nesta semana. Nele, constam denúncias que foram recebidas pelo número 190 e também informações de uma ocorrência de apoio à Vigilância Sanitária na clínica do veterinário.
O próprio coronel passou por uma situação que pode ter envolvido o veterinário denunciado.
“Há cerca de dois meses, na minha residência, apareceu um gato cheio de pontos na barriga e na área genital, muito magro e debilitado. No outro dia o levei numa clínica veterinária e lá escutei que havia denúncias contra um veterinário que não estava fazendo cirurgias de uma forma correta.Inclusive, a situação desse gato que eu levei era semelhante. Ele passou por um procedimento mal feito. E também se constatou que esse veterinário (dr. Bell) na época estava justamente com consultório bem ao lado da minha casa. Então tudo leva a crer que esse gato que apareceu na minha residência fugiu da clínica dele”, explica.
O felino resgatado pelo Coronel Jefferson Schmidt sobreviveu.

No ano passado, após diversas denúncias, uma equipe de fiscalização do Cepread chegou a ir até a residência do Dr. Bell, acompanhada da Polícia Militar. Porém, nenhum flagrante foi feito no dia.  E o próprio veterinário comentou a situação nas redes sociais.

 

 

VERSÃO DO VETERINÁRIO

A nossa equipe conseguiu contato por Whats App com o Dr. Eduardo. Ele explicou que os tutores assinam um documento de que estão cientes dos riscos dos procedimentos. E não quis se pronunciar sobre as acusações.

VERSÃO DA PREFEITURA

A assessoria de imprensa do setor de fiscalização da Prefeitura de Blumenau respondeu em nota que a “A Semmas – Secretaria do Meio Ambiente e Sustentabilidade – está sabendo do ocorrido e para os próximos dias algumas providências serão tomadas.”. Os responsáveis não informaram o resultado da fiscalização efetuada no ano passado.

VERSÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

O Ministério Público recebeu a primeira denúncia formalmente somente na semana passada. Até então, não havia nenhum registro contra o médico veterinário.

Para formalizar as denúncias, as vítimas precisam encaminhar e-mail para: blumenau13pj@mpsc.mp.br

 

VERSÃO DO CRMV

Em casos de maus-tratos, o CRMV-SC atua de acordo com a legislação e normativas pertinentes. Além disso, não há previsão legal para simulação de flagrantes ou a entrada não autorizada em residências por exemplo.

*COMO DENUNCIAR *
No site www.crmvsc.gov.br na área de serviços, basta clicar no link DENÚNCIAS.
Para mais orientações sobre denúncias éticas, o setor competente estará à disposição para esclarecimentos nos contatos: (48) 3953-7711 ou processoetico@crmvsc.gov.br

 

Confira a nota na íntegra aqui.

O CRMV-SC tem como uma das suas principais atribuições a fiscalização do exercício profissional da medicina veterinária no Estado de Santa Catarina. Na função de órgão fiscalizador, recebe diariamente denúncias relacionadas aos profissionais, empresas e de maus-tratos contra animais.

Em casos de maus-tratos, o CRMV-SC atua de acordo com a legislação e normativas pertinentes. Além disso, não há previsão legal para simulação de flagrantes ou a entrada não autorizada em residências por exemplo.

Sempre que a denúncia relatada envolve a prática de maus-tratos a animais a orientação dada pelo CRMV-SC é de que primeiramente o denunciante procure uma autoridade policial pois eles têm o necessário poder de polícia para cessar o dano imediatamente.

Feita a comunicação a autoridade policial e sendo gerado o boletim de ocorrência este documento pode ser encaminhado ao CRMV-SC para que possamos verificar se existe a participação de um profissional médico-veterinário e então aplicar as normativas relacionadas ao Código de Ética do Médico Veterinário, previstas na Resolução do Conselho Federal de Medicina Veterinária CFMV nº 1.138/2016 e todas as demais normas aplicadas a atividade do médico-veterinário, entre elas a abertura de um processo ético contra o profissional denunciado.

O processo ético disciplinar é SIGILOSO e ocorre durante o tempo necessário para o cumprimento de etapas que permitem apresentação de provas e testemunhas para ambas as partes. Quando o processo for concluído e ocorrendo uma condenação, algumas das penalidades aplicadas tornam-se públicas.

A fiscalização do CRMV-SC atua diariamente em todo Estado e, em casos especiais em que possa estar ocorrendo maus-tratos por exemplo, são traçadas estratégias de atuação conjunta com outros órgãos.

As denúncias relacionadas a irregularidades com propaganda, registro profissional e que envolvam estabelecimentos veterinários sempre são apuradas no âmbito do Conselho. Além disso, no caso específico, o CRMV-SC participou de ação conjunta com Município de Blumenau e ficou de sobreaviso para acompanhar a ação policial.

Ainda que possa não parecer visível a participação do CRMV-SC como órgão orientador e fiscalizador, ele conduziu, através das orientações prestadas pelos fiscais, seus colaboradores e pelas nossas mídias sociais, a mais uma denúncia assertiva e eficaz.

O sistema CFMV/CRMVs possuem regras claras sobre a conduta profissional e tipificação de maus-tratos. Estamos sempre atentos e atuando à disposição dos cidadãos e demais órgãos para os casos que envolvam as atividades médico-veterinário ou de zootecnistas e nas questões relacionadas a maus-tratos aos animais.

*COMO DENUNCIAR *
No site www.crmvsc.gov.br na área de serviços, basta clicar no link DENÚNCIAS.
Para maiores orientações sobre denúncias éticas, o setor competente estará à disposição para esclarecimentos nos contatos: (48) 3953-7711 ou processoetico@crmvsc.gov.br

  • Patrocínio

  • Apoio

  • Tags

    Relacionados